Decisão do presidente de enviar fuzileiros navais e Guarda Nacional a Los Angeles intensifica debate nacional e gera ações judiciais. Protestos se espalham pelo país com dezenas de prisões e expectativa de grandes manifestações.

Os Estados Unidos vivem dias de alta tensão com a escalada de protestos contra as operações de imigração do presidente Donald Trump. O epicentro da crise tem sido Los Angeles, na Califórnia, onde a decisão de Trump de enviar tropas militares para a cidade, contrariando o governador Gavin Newsom, acendeu um debate nacional sobre o uso do Exército em solo americano. O governo da Califórnia, inclusive, já entrou com um processo contra a administração federal devido ao envio das tropas.
Setecentos fuzileiros navais e 4.000 tropas da Guarda Nacional foram mobilizados para Los Angeles, conforme ordem de Trump. Apesar de o major-general do Exército Scott Sherman, comandante das tropas, ter afirmado que eles não têm autoridade para prender, ressaltou que podem deter temporariamente indivíduos para proteger pessoal ou propriedades federais. Os fuzileiros, que estavam em treinamento em Seal Beach, ao sul do condado de Los Angeles, devem se deslocar para a cidade em breve, sem portar munição real nos rifles.
A controvérsia em torno da presença militar foi intensificada por publicações do ICE (Immigration and Customs Enforcement) nas redes sociais, que mostraram tropas da Guarda Nacional armadas enquanto agentes algemavam supostos imigrantes ao lado de um carro em Los Angeles. Essa ação levanta questionamentos sobre a Lei Posse Comitatus de 1878, que geralmente proíbe o Exército dos EUA de participar da aplicação da lei civil. As tropas na Califórnia foram destacadas com base em uma lei federal separada que as permite proteger agentes federais, mas não anula a proibição de agirem como força policial.
O procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, que processou a administração Trump, expressou preocupação de que a presença das tropas junto aos agentes do ICE possa levar a violações da lei, dada a “linha tênue entre proteção e ação de aplicação da lei”. O Departamento de Segurança Interna, órgão superior do ICE, revelou um aumento significativo nas prisões de infratores de imigração, chegando a cerca de 2.000 por dia recentemente, em contraste com a média de 311 no ano fiscal de 2024, durante a gestão do ex-presidente Joe Biden. A Casa Branca reiterou o compromisso de Trump em realizar a “maior campanha de deportações em massa da história americana”.
Os protestos, iniciados na última sexta-feira (6) após operações federais de imigração em Los Angeles, têm sido, em sua maioria, pacíficos e concentrados no centro da cidade. Contudo, a prefeita Karen Bass impôs um toque de recolher após saques a alguns estabelecimentos. O Departamento de Polícia de Los Angeles informou a prisão de 225 pessoas na terça-feira (10), a maioria por não dispersar e por violar o toque de recolher.
A onda de manifestações não se restringe a Los Angeles. Cidades como Nova York, Atlanta e Chicago registraram marchas com slogans contra o ICE. O governador do Texas, Greg Abbott, anunciou o envio da Guarda Nacional para San Antonio e outras regiões do estado, antecipando protestos. O clímax é esperado para este sábado (14), com mais de 1.800 manifestações planejadas em todo o país por uma coalizão de grupos ativistas, o “No Kings”, que defende protestos pacíficos. A data coincide com uma parada militar em Washington, D.C., que celebra os 250 anos do Exército dos EUA e o 79º aniversário de Trump, o que levanta preocupações sobre possíveis confrontos, dado o alerta do presidente de que manifestantes serão recebidos com “força muito grande”.stantes tenha deixado as áreas designadas, “vários grupos continuam se reunindo na 1st St, entre Spring e Alameda”, conforme comunicado pelo LAPD. A polícia declarou que esses grupos estavam sendo abordados e que “prisões em massa estão sendo iniciadas” por não dispersarem de uma “reunião ilegal”.
Um helicóptero da Patrulha Rodoviária da Califórnia foi visto sobrevoando Little Tokyo, no centro da cidade, onde o toque de recolher estava em vigor, indicando a magnitude da operação policial para conter as manifestações. A situação sublinha a complexidade das dinâmicas sociais e de segurança em grandes centros urbanos, onde o direito à manifestação e a manutenção da ordem pública frequentemente se chocam. A cidade permanece em alerta enquanto as autoridades buscam controlar a situação e garantir a segurança.