Decisão judicial revolta fãs e reacende debate sobre a memória do ídolo, em meio a acusações de negligência e especulações políticas póstumas.

A Justiça argentina anulou nesta quinta-feira, 29 de maio, o julgamento dos sete profissionais de saúde acusados pela morte de Diego Maradona, declarando o processo judicial como inválido. A decisão, que ocorre após mais de dois meses de audiências e diversas polêmicas, provocou uma onda de indignação entre os fãs do ídolo argentino e gerou repercussão imediata em todo o país.
Os sete profissionais de saúde eram acusados de negligência médica e respondiam por homicídio simples com dolo eventual – um relatório médico independente de 2021 já havia afirmado que o ex-jogador morreu “abandonado à própria sorte”. Se condenados, os réus poderiam enfrentar penas de oito a 25 anos de prisão.
A suspensão do julgamento, que antecedeu a anulação, foi motivada por um escândalo envolvendo a juíza Julieta Makintach. A conduta da magistrada foi questionada após supostamente ter participado de um documentário sobre a morte de Maradona. O promotor do caso, Patricio Ferrari, solicitou a suspensão temporária, também em razão da suposta entrada de câmeras nas audiências, o que era proibido desde o segundo dia do julgamento. A juíza Makintach defendeu-se, afirmando que não via irregularidade em sua conduta e que o material de sua entrevista era bruto e não havia sido divulgado.
A anulação do julgamento intensificou a revolta já existente entre os argentinos. Desde o início do processo, fãs de Maradona se manifestavam em frente ao tribunal em Buenos Aires. A tensão foi palpável, culminando na agressão ao neurocirurgião Leopoldo Luque, médico pessoal de Maradona, por um torcedor ao chegar ao tribunal. Outro momento de choque ocorreu no primeiro dia do julgamento, quando um promotor do caso exibiu uma foto de Maradona minutos após sua morte, causando consternação.
A indignação popular foi ainda mais acentuada por uma recente polêmica envolvendo a suposta posição política póstuma de Maradona em relação ao presidente Milei, que teria sido veiculada e gerou a revolta de Dalma Maradona, filha do ex-jogador. Este contexto adiciona uma camada de complexidade à já ferida percepção pública sobre a justiça e o legado de Maradona na Argentina.
A anulação do julgamento, portanto, não é apenas um revés legal, mas um catalisador para a frustração de uma nação que busca respostas e justiça para a morte de um de seus maiores símbolos. A expectativa agora recai sobre os próximos passos da Justiça argentina e como a sociedade reagirá a essa reviravolta no caso que chocou o mundo.