Operação Sem Desconto investiga fraudes de R$ 6,3 bilhões; anotações citam ex-chefes do INSS

A Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Sem Desconto no último dia 23, com o objetivo de apurar descontos irregulares em pagamentos a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A investigação, conduzida em conjunto com a Controladoria-Geral da União (CGU), aponta que as fraudes podem ter alcançado a cifra de R$ 6,3 bilhões, no período de 2019 a 2024.
No decorrer da operação, a PF apreendeu cadernos com anotações que sugerem a divisão de propinas. O material foi encontrado no escritório de Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, em Brasília, suspeito de ser lobista e facilitador do esquema.
Entre as anotações, os investigadores encontraram referências a “Virgilio 5%” e “Stefa 5%”. A suspeita é que os percentuais se refiram a pagamentos destinados ao ex-procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira Filho, e ao ex-presidente do instituto, Alessandro Stefanutto. Ambos já haviam sido afastados de seus cargos em abril, por decisão da Justiça Federal.
A investigação da PF revelou ainda que entidades como sindicatos realizavam descontos diretamente na folha de pagamento de aposentados e pensionistas, muitas vezes sem o conhecimento ou autorização dos beneficiários. Esse tipo de desconto é previsto em lei desde 1991, mas exige o consentimento expresso do aposentado. Estima-se que as fraudes possam ter atingido cerca de 4 milhões de pessoas.
Documentos da PF apontam que o “Careca do INSS” movimentou R$ 9,3 milhões para pessoas ligadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024. As apurações indicam que empresas ligadas a Thaisa Hoffmann Jonasson, esposa do ex-procurador-geral Virgílio Oliveira Filho, e ao filho do ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão do INSS, Eric Douglas Martins Fidelis, receberam valores significativos.
A defesa de Alessandro Stefanutto negou as acusações, afirmando que a anotação encontrada nos cadernos não possui “qualquer conexão com fatos, valores ou atos praticados” por ele. A reportagem tenta contato com a defesa de Virgílio Oliveira Filho.