Estatal acumula 12 trimestres de prejuízos e novo presidente admite que medidas anteriores foram apenas “emergenciais” diante de déficit de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025.

Os Correios anunciaram nesta quarta-feira (15) que estão negociando com bancos a tomada de um empréstimo de R$ 20 bilhões para fazer frente à grave crise financeira que afeta a empresa desde 2024. A medida, classificada como parte da reestruturação da estatal , é crucial para o novo presidente, Emmanoel Schmidt Rondon, que está no cargo há menos de um mês.
Em coletiva de imprensa, o presidente Rondon confirmou que o contrato de crédito ainda está em fase de negociação. Questionado sobre a necessidade urgente do montante, ele foi categórico ao afirmar que a operação é fundamental para recuperar a liquidez da empresa e, principalmente, para “ter capacidade de pagar o Plano de Demissão Voluntária (PDV)”.
Crise Aprofundada e Atrasos em Cadeia
O anúncio do megaempréstimo ocorre em um momento crítico. A empresa divulgou um prejuízo de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025 , um salto significativo em relação ao déficit de R$ 1,3 bilhão no mesmo período de 2024. No ano anterior, a estatal consumiu R$ 2,9 bilhões do caixa e aplicações financeiras.
A escassez de recursos tem gerado uma reação em cadeia nos serviços.
- Desde o começo de abril , transportadoras parceiras estão paralisadas ou com ritmo de trabalho mais lento, impactando a entrega de encomendas.
- Houve atrasos no repasse de comissões às agências franqueadas.
- Repasses ao plano de saúde dos funcionários também foram prejudicados, levando à suspensão de atendimentos por algumas redes hospitalares.
Em um documento interno, a gestão financeira dos Correios chegou a admitir o adiamento no pagamento de diversas obrigações que somam R$ 2,75 bilhões , buscando preservar a liquidez. Entre as dívidas suspensas ou postergadas estão R$ 741 milhões de INSS Patronal, R$ 652 milhões a Fornecedores e R$ 363 milhões ao Postal Saúde.
O Novo e o Velho Plano de Reestruturação
O presidente Rondon pontuou que a falta de adaptação ágil dos Correios a uma nova realidade de mercado causou o sofrimento no resultado e a falta de caixa.
Ele também fez uma distinção clara entre as medidas de contenção de gastos anunciadas em maio de 2025 e o novo plano:
“Não temos o impacto total que as medidas anteriores tiveram, mas elas foram emergenciais, não reestruturantes como agora”, afirmou Rondon.
As ações tomadas em maio incluíam:
- Corte de pelo menos 20% do orçamento de funções na Sede, com redução de cargos comissionados.
- Suspensão temporária de férias a partir de junho de 2025.
- Convocação para o retorno ao regime de trabalho presencial.
- Captação de R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB) para investimentos.
- Venda de imóveis ociosos e otimização da malha logística.
O novo plano de Rondon mantém pilares já citados , mas com a injeção de capital de R$ 20 bilhões para aliviar o caixa entre 2025 e 2026. As medidas se dividem em três grupos: corte de despesas operacionais (com novo PDV) , diversificação de receitas (com a promessa de novos produtos não detalhados) , e a recuperação da liquidez (via empréstimo).