Estudo revela que goma de mascar sintética libera centenas de microplásticos, levantando preocupações sobre os potenciais impactos na saúde.
Um novo estudo apresentado na Sociedade Americana de Química revelou um fato preocupante sobre um hábito comum: a goma de mascar libera centenas de microplásticos diretamente na boca. A pesquisa, liderada por Sanjay Mohanty, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), analisou dez marcas diferentes de goma de mascar e constatou que um único grama de chiclete pode liberar, em média, 100 microplásticos, com alguns liberando mais de 600. Considerando que o peso médio de um chiclete é de 1,5 grama, o estudo sugere que pessoas que mascam cerca de 180 chicletes por ano podem ingerir cerca de 30.000 microplásticos.
A pesquisa destaca uma rota pouco explorada pela qual frações minúsculas de plástico entram em nossos corpos, além das já conhecidas fontes como ar, água, alimentos, embalagens, tecidos sintéticos e cosméticos. Microplásticos já foram encontrados em diversas partes do corpo humano, desde os pulmões até o cérebro, levantando preocupações sobre seus potenciais impactos na saúde.
Lisa Lowe, estudante de doutorado da UCLA e participante do estudo, expressou surpresa ao descobrir que tanto gomas de mascar sintéticas quanto naturais liberam microplásticos. A goma de mascar sintética, mais comum nos supermercados, utiliza polímeros à base de petróleo para obter a consistência mastigável, mas a embalagem geralmente omite essa informação, utilizando apenas o termo “base de goma”.
O estudo também revelou que a liberação de microplásticos ocorre principalmente nos primeiros oito minutos de mastigação. David Jones, pesquisador da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, considerou os resultados “nada surpreendentes”, mas questionou a origem de alguns plásticos encontrados, sugerindo que podem ter vindo de outras fontes.
O uso de goma de mascar tem uma longa história, com o industrial americano Thomas Adams iniciando a fabricação em grande escala em 1860. A popularização ocorreu com os militares americanos na Segunda Guerra Mundial, e a partir da década de 1960 surgiram os primeiros chicletes sem açúcar. A transição para o uso de polímeros à base de petróleo ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, devido ao custo de produção. Atualmente, a base da goma é formada por parafina e resinas sintéticas, com uma composição molecular semelhante à de plásticos e borrachas.
O setor de balas e gomas no Brasil é significativo, com uma produção de 214 mil toneladas em 2020 e um crescimento de 24,3% no primeiro semestre de 2021. A pandemia afetou o consumo de gomas de mascar, principalmente em ocasiões de socialização ou mobilidade.
Apesar do estudo, Sanjay Mohanty ressalta que ainda não há evidências de uma ligação direta entre microplásticos e alterações na saúde humana. No entanto, especialistas em saúde como Tracey Woodruff expressaram preocupação com a presença de microplásticos em alimentos, e Dana Hunnes, nutricionista da UCLA, sugeriu que as pessoas considerem reduzir ou evitar o consumo de goma de mascar, especialmente crianças.
Este estudo levanta questões importantes sobre a presença de microplásticos em nosso cotidiano e seus potenciais impactos na saúde. A falta de informações claras sobre a composição da goma de mascar e a crescente preocupação com a contaminação por microplásticos exigem uma reflexão sobre nossos hábitos de consumo e a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.
