Especialistas discutem ações para conter o desmatamento, proteger as águas e implementar políticas agrícolas sustentáveis no bioma mais ameaçado do Brasil.
Belo Horizonte, 02 de dezembro de 2024 — A Assembleia Legislativa de Minas Gerais foi palco de um importante debate sobre a preservação do Cerrado, o bioma mais desmatado do Brasil. Especialistas, autoridades e gestores públicos discutiram o alarmante avanço do desmatamento e as estratégias necessárias para preservar um dos mais importantes ecossistemas do país, considerado um dos principais sensores de mudanças climáticas.
O desmatamento no Cerrado atingiu mais de 1,1 milhão de hectares em 2023, ultrapassando o da Amazônia e registrando um aumento de 67,7% em relação ao ano anterior. Além disso, incêndios devastaram cerca de 43% da área total do bioma nas últimas quatro décadas. Este cenário alarmante foi o foco das discussões, que ressaltaram a vulnerabilidade do Cerrado às práticas agrícolas intensivas, especulação fundiária e manejo inadequado do fogo.
Segundo o superintendente do IBAMA em Minas Gerais, Sérgio Domingues, o plano nacional de prevenção e controle do desmatamento e queimadas no bioma é uma das principais iniciativas em curso.
“O que ele tem são quatro pontos básicos: atividades produtivas sustentáveis, monitoramento e controle do desmatamento e queimadas, regularização fundiária para evitar conflitos, e propostas normativas legais e econômicas”, explicou Domingues.
A Água como Foco Central
Outro ponto de destaque foi a gestão hídrica no Cerrado, que abriga nascentes cruciais para as bacias dos rios São Francisco e Jequitinhonha. Com 57% do território mineiro ocupado por esse bioma, a escassez de água é uma preocupação crescente.
De acordo com o subsecretário de Política e Economia Agropecuária de Minas Gerais, Caio Coimbra, a Política de Agricultura Irrigada e Sustentável (PAIS) está em fase de regulamentação, trazendo esperanças para o setor.
“Hoje, temos somente 15% do potencial irrigado. Ainda temos que ampliar bastante, porque podemos aumentar a produtividade sem derrubar árvores. Isso significa colocar comida a preços acessíveis na mesa de quem mais precisa, sendo ambientalmente corretos. A PAIS, que foi aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Romeu Zema, deve ser regulamentada nos próximos três a quatro meses”, afirmou Coimbra.
O debate destacou a urgência de iniciativas para proteger o Cerrado e melhorar a gestão sustentável do bioma. Enquanto os participantes discutiam novas legislações e estratégias, projetos como o Cerrado das Águas e o Cervivo se destacam como protagonistas na preservação local.
O projeto Cerrado das Águas atua na recuperação de nascentes e áreas degradadas, garantindo a segurança hídrica da região e envolvendo comunidades em práticas de reflorestamento com espécies nativas. Já o Cervivo foca na conservação de áreas privadas do Cerrado, promovendo a sustentabilidade por meio de parcerias com empresas e cidadãos que desejam contribuir para a preservação do bioma.
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e um dos mais ricos em biodiversidade do mundo, abrigando mais de 11.000 espécies de plantas e funcionando como a “caixa d’água do Brasil”. Contudo, sua importância vai além da biodiversidade, sendo crucial para a regulação hídrica e o equilíbrio climático do país.
O debate realizado na Assembleia Legislativa reforça a urgência de proteger o Cerrado, não apenas como um bioma, mas como um pilar estratégico para a sustentabilidade do Brasil. As ações discutidas, se implementadas, poderão garantir que o Cerrado continue a desempenhar seu papel vital na manutenção dos recursos naturais e no combate às mudanças climáticas.
